"O governismo ainda é dominante no PT. Muita gente no Partido
ainda não aprendeu a diferenciar o ser governo do ser governista. É
óbvio que o PT deve defender, sustentar, apoiar seus governos. Mas o
papel do PT vai além disso", constata o membro do Diretório Nacional do
PT.
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“O
governismo ainda é dominante no PT. Muita gente no Partido ainda não
aprendeu a diferenciar o ser governo do ser governista. É óbvio que o PT
deve defender, sustentar, apoiar seus governos. Mas o papel do PT vai
além disso. Os governos de coalizão, como foram os governos
Lula e
como é o governo Dilma, são governos em disputa. Cabe ao PT disputar
seus governos, o que supõe perceber as diferenças entre governo e
partido, evitando o governismo que confunde um e outro. E cabe ao PT
disputar a sociedade, para acumular forças em favor de seu projeto
programático, estratégico, histórico. Se não fizermos isso, vamos acabar
transformando o programa mínimo de um governo de coalizão, no programa
máximo do partido. Infelizmente, amplos setores do PT cometem este erro,
consciente ou inconscientemente”.
A reflexão é do secretário executivo do Foro de São Paulo,
Valter Pomar, na entrevista que concedeu por e-mail à
IHU On-Line,
onde defende que é preciso derrotar o discurso segundo o qual nosso
objetivo é ser um “país de classe média”, “assim como esta besteira
sociológica e política segundo a qual nos dez anos de governo petista
milhões ‘ascenderam para a classe média’. Os que melhoraram de vida,
desde 2003, são na esmagadora maioria classe trabalhadora. E devem ser
vistos assim, chamados por este nome e convocados a se organizar, pensar
e agir como tal”.
Valter Pomar é historiador formado pela Universidade
de São Paulo – USP e mestre e doutor em História Econômica pela mesma
instituição. Foi secretário de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo da
prefeitura municipal de Campinas de 2001 a 2004. É membro do Diretório
Nacional do Partido dos Trabalhadores e secretário-executivo do Foro de
São Paulo.
Confira a entrevista.IHU On-Line – De forma geral, como o senhor avalia os dez anos do PT diante do governo federal?
Valter Pomar – Eu faço uma avaliação positiva, porém
crítica. Positiva, porque estamos melhor – política, econômica e
socialmente – do que estávamos sob o
governo FHC e porque estamos muito melhor do que estaríamos se
Serra ou
Alckmin tivessem
vencido alguma das três últimas eleições presidenciais. Crítica, porque
ainda não conseguimos superar a herança neoliberal, porque não
conseguimos fazer as reformas estruturais necessárias para superar o
desenvolvimentismo conservador e, principalmente, porque não estamos
conseguindo implementar algumas tarefas estratégicas, a saber: a reforma
política no sentido amplo da palavra, a democratização da comunicação
social, a politização e organização dos setores que ascenderam
socialmente durante estes dez anos, bem como das novas gerações. Tarefas
nas quais o governo joga algum papel, mas que no essencial são tarefas
que devem ser conduzidas pelo Partido.
IHU On-Line – O que os dez anos de governo federal encabeçado pelo PT tiveram de governo democrático-popular?
Valter Pomar – A expressão democrático-popular pode
ter vários significados. Se for no sentido empregado pelas resoluções do
PT nos anos 1980, a resposta é: nada. Pois governo democrático-popular,
no sentido empregado por aquelas resoluções, seria aquele governo que
faz reformas estruturais no país, reformas de sentido antilatifundiário,
antimonopolista, anti-imperialista. Se adotarmos um ponto de vista mais
amplo, segundo o qual governo democrático-popular seria aquele que
adota um modelo de desenvolvimento oposto ao desenvolvimentismo
conservador que vigorou no Brasil entre 1930 e 1980, poderíamos dizer
que nestes dez anos ensaiamos algo nesse sentido. Mas acho que o mais
adequado é reconhecer que nestes dez anos fizemos um governo de
centro-esquerda, no interior do qual trabalhamos para superar a herança
neoliberal.
IHU On-Line – Quais os riscos de se cair em
um esquerdismo a partir das diferenças políticas existentes dentro do PT
e dentro da esquerda política brasileira de forma geral?
Valter Pomar – O esquerdismo é residual no PT, mas
está presente em outros setores da esquerda brasileira. De maneira muito
simplificada, o esquerdismo consiste em considerar o
governo Lula e/ou o
Partido dos Trabalhadores
como inimigo principal ou, pelo menos, como aliado do inimigo
principal, como aliado do imperialismo e do grande capital. Trata-se de
um equívoco similar ao que foi cometido pelos comunistas frente ao
segundo governo de
Vargas. Há formas mitigadas de
esquerdismo, por exemplo, entre setores da intelectualidade brasileira,
que organizam sua análise da realidade a partir de uma premissa falsa, a
saber: a de que o PT seria a força hegemônica na sociedade brasileira,
confundindo governo com poder e, por tabela, atribuindo ao
Partido dos Trabalhadores
a responsabilidade por uma situação que decorre da hegemonia realmente
existente. É bom lembrar sempre: ainda vivemos num país marcado pela
herança neoliberal, hegemonizado pelo grande capital e pelas forças de
centro-direita. Isso não quer dizer, obviamente, que o PT não possa e
não deva ser criticado, especialmente quanto à maneira como ele busca
superar a herança neoliberal e a hegemonia da centro-direita e do grande
capital.
IHU On-Line – Em que medida o governismo teve espaço nesses dez anos de esquerda no poder no Brasil?
Valter Pomar – O governismo ainda é dominante no PT.
Muita gente no Partido ainda não aprendeu a diferenciar o ser governo
do ser governista. É óbvio que o PT deve defender, sustentar, apoiar
seus governos. Mas o papel do PT vai além disso. Os governos de
coalizão, como foram os governos
Lula e como é o
governo Dilma,
são governos em disputa. Cabe ao PT disputar seus governos, o que supõe
perceber as diferenças entre governo e Partido, evitando o governismo
que confunde um e outro. E cabe ao PT disputar a sociedade, para
acumular forças em favor de seu projeto programático, estratégico,
histórico. Se não fizermos isso, vamos acabar transformando o programa
mínimo de um governo de coalizão, no programa máximo do partido.
Infelizmente, amplos setores do PT cometem esse erro, consciente ou
inconscientemente.
IHU On-Line – Como, nesses dez anos, a esquerda petista reagiu diante da crise do socialismo soviético e da social-democracia?
Valter Pomar – A crise do socialismo soviético foi
espetacular, aguda e é um fenômeno dos anos 1980, início dos anos 1990.
Já a crise da social-democracia é um processo mais lento, arrastado,
crônico, que vem dos anos 1980 e se estende até hoje, haja vista o
desmonte do chamado Estado de bem-estar social europeu. As duas crises
foram acompanhadas pela crise do desenvolvimentismo e do nacionalismo
revolucionário. E, é claro, pela ofensiva neoliberal. O resultado disso
tudo foi colocar a esquerda mundial num ambiente de defensiva
estratégica. Todos fomos obrigados a dar dois passos atrás. Mas alguns
foram além disso, e mudaram suas posições: comunistas viraram
social-democratas, revolucionários viraram reformistas,
social-democratas transformaram-se em social-liberais,
desenvolvimentistas viraram neoliberais, nacionalistas viraram
entreguistas. De maneira geral, o
PT saiu-se
relativamente bem do processo, pois não rompemos os vínculos com a
classe trabalhadora, não abjuramos o socialismo e a esquerda, e também
por isso conseguimos, nadando contra a corrente, fazer o Partido ampliar
sua força eleitoral-institucional. Agora, é evidente que dentro desses
marcos houve setores do PT que não apenas mudaram de posição, também
mudaram de lado. Alguns, menos relevantes, saíram do PT e passaram a
fazer parte do tucanato. Outros permaneceram dentro do Partido,
defendendo posições social-liberais e propondo, por exemplo, uma
aproximação estratégica com o
PSDB. No início do
governo Lula, estes setores tiveram muita força, hoje perderam grande parte de sua influência.
IHU On-Line – Em que consiste o déficit teórico da esquerda em nosso país?
Valter Pomar – A esquerda mundial, não apenas a
brasileira, possui um déficit teórico em três âmbitos principais: na
compreensão do capitalismo do século XXI, na análise das experiências
socialistas ocorridas no século XX e no debate acerca da estratégia. No
caso específico do Brasil, isso se traduz numa baixa compreensão acerca
da sociedade brasileira hoje. Prova disso é que as grandes e melhores
referências de análise do Brasil seguem sendo nomes como
Sérgio Buarque,
Caio Prado Jr.,
Werneck Sodré,
Celso Furtado e
Florestan Fernandes.
Sem entrar no mérito das contribuições de cada um, é mais do que claro
que o Brasil por eles investigado é diferente do atual. E para ser mais
preciso: nossa compreensão acerca das classes sociais e da luta de
classes no Brasil está totalmente defasada. É em parte por isso que um
partido socialista e de trabalhadores, como somos nós do
PT,
estamos crescentemente hegemonizados por posições desenvolvimentistas.
Que são, é bom dizer, muito melhores do que o social-liberalismo. Mas
são muito menos do que o PT desejava nos anos 1980 e, sobretudo, são
totalmente insuficientes para enfrentar os problemas postos para o país,
neste momento de crise do capitalismo mundial.
IHU
On-Line – Como as transformações nas classes sociais brasileiras,
principalmente a classe média, contribuem para os novos movimentos da
esquerda no país?
Valter Pomar – A estrutura de classes existente na
sociedade brasileira, nos anos 1970, foi revirada três vezes: primeiro
pela crise do desenvolvimentismo, depois pelo neoliberalismo e, agora,
pelas políticas adotadas nesta década de governos encabeçados pelo PT. A
classe trabalhadora não é mais a mesma, assim como os capitalistas não
são mais os mesmos. E os setores médios – termo bastante inadequado, que
inclui desde trabalhadores de alta renda capazes de assalariar outros
trabalhadores, até pequenos proprietários que funcionam num esquema de
produção familiar – também sofreram grandes transformações.
Em
minha opinião, a esquerda deve atentar para três aspectos. Primeiro,
determinar melhor quem é a fração dominante na classe capitalista, ou
seja, quem é nosso inimigo principal. Há um pensamento vulgar que
identifica esta fração como “os banqueiros”, quando na verdade a fração
dominante é financeira, com tentáculos por todos os ramos de atividade.
Em segundo lugar, devemos identificar os diferentes setores da classe
trabalhadora e determinar quais são os setores cuja organização é
especialmente estratégica. Os metalúrgicos foram isso nos anos 1970 e
1980. E agora? Em terceiro lugar, é preciso analisar cada um dos setores
que o senso comum designa como classes médias, pois ganhar para nosso
lado ou pelo menos neutralizar estes setores é algo decisivo para o
sucesso de um projeto democrático, popular e socialista. Tudo isso
supõe, é claro, derrotar este discurso segundo o qual nosso objetivo é
ser um “país de classe média”, assim como esta besteira sociológica e
política segundo a qual nos dez anos de governo petista milhões
“ascenderam para a classe média”. Os que melhoraram de vida, desde 2003,
são na esmagadora maioria classe trabalhadora. E devem ser vistos
assim, chamados por este nome e convocados a se organizar, pensar e agir
como tal.
IHU On-Line – O que o senhor caracteriza como o pensamento de esquerda hoje?
Valter Pomar – Entendo que há várias esquerdas no
Brasil. Do ponto de vista programático, do ponto de vista das ideias, há
pelo menos quatro esquerdas. Há uma esquerda social-liberal, que está
na esquerda, mas deixando de sê-lo. E há também uma esquerda
desenvolvimentista, uma esquerda social-democrata e uma esquerda
socialista. Esta última é minoritária, está espalhada em várias
organizações distintas e, além disso, sofre grande influência do
esquerdismo.
Nosso desafio é voltar a ter uma esquerda socialista de massas, que
seja capaz de vincular três movimentos: as tradições populares contra o
desenvolvimentismo conservador, a luta das classes trabalhadoras por
políticas públicas que melhorem a vida do povo aqui e agora, e a luta
socialista contra o capitalismo.
A aposta que fazemos é que, dado seus vínculos com a classe
trabalhadora, o petismo já foi e ainda é quem tem melhores condições de
ser esta esquerda socialista de massas, à condição de que derrotemos as
posições social-liberais e que enquadremos as posições
desenvolvimentistas e social-democratas existentes no interior do
Partido. Se não tivermos êxito, voltaremos à condição do período
pré-surgimento do PT, em que a esquerda socialista era uma força
minoritária, oscilando entre o sectarismo e o adesismo.
IHU On-Line – Que tipo de reformas estruturais devem ser realizadas para que se supere o desenvolvimentismo conservador?
Valter Pomar – O desenvolvimentismo conservador
produz um crescimento econômico marcado por três características
principais: a dependência externa, a desigualdade social e o
conservadorismo político. E sua base social atual está na aliança entre
as distintas frações do empresariado capitalista, com parcelas dos
setores médios e dos trabalhadores assalariados. O que chamamos de
reformas estruturais? Exatamente aquelas ações que afetam, atingem,
desfazem o poder econômico, político e ideológico do empresariado
capitalista; e que, pelo contrário, fortalecem os setores sociais
dominados. Por exemplo, reforma tributária, reforma agrária, reforma
urbana, políticas sociais universalizantes, quebra dos grandes
monopólios privados, democratização da comunicação social, reforma do
Estado, inclusive reforma política, integração regional etc.
IHU
On-Line – Como definir a esquerda política latino-americana? Nossa
experiência atual tem mais a aprender com Allende ou com Che Guevara?
Valter Pomar – A esquerda latinoamericana são
várias. O que nos unifica? Por um lado, a luta contra o neoliberalismo,
por outro lado a defesa da integração regional. Agora, apesar das
diferenças, as esquerdas latino-americanas atuam em marcos históricos
distintos daqueles que, em outras épocas, permitiram adotar a
insurreição, a guerra popular e a guerra de guerrilhas como vias de
tomada do poder. Os processos que estamos vivendo, desde 1998, na
América do Sul, principalmente, enfrentam dilemas que já foram vistos
noutras situações, por exemplo, durante o
governo da Unidade Popular chilena. Claro que atuamos em uma situação histórica distinta daquela existente em 1970-1973.
Porém as questões fundamentais a estudar e debater não se alteraram: a
composição e o programa do bloco histórico popular; a combinação entre a
presença no aparato de Estado e a construção de um contrapoder,
especialmente no caso das Forças Armadas; como lidar com a atitude das
classes dominantes, que, frente a ameaças a sua propriedade e a seu
poder, quebram a legalidade e empurram o processo em direção a situações
de ruptura; a maior ou menor maturidade do capitalismo existente em
cada formação social concreta e a resultante possibilidade de tomar
medidas socialistas.
A grande novidade, que incide sobre os termos da equação acima
resumidos, é a constituição, entre 1998 e 2013, de uma correlação de
forças na América Latina que permite limitar a ingerência externa.
Enquanto exista esta situação, será possível especular teórica e
praticamente acerca de uma via de tomada do poder que, ainda que também
revolucionária, seja diferente da insurreição e da guerra popular. Claro
que temos muito a aprender com
Che. E também com
Lenin,
Mao etc.
Mas esse aprendizado será mais útil, se entendermos que operamos numa
situação histórica que tem mais parentesco com a vivida pela
Unidade Popular chilena do que com a vivida pela
Cuba de 1953-1959.
IHU
On-Line – O que deveria ser levado em conta ao se fazer um balanço das
experiências socialistas, social-democratas e
nacional-desenvolvimentistas do século XX?
Valter Pomar – Tem muita coisa a levar em conta, mas
o fundamental é perceber como o capitalismo se adaptou, cercou,
sufocou, deformou e limitou cada uma destas experiências. Dizendo de
outra maneira: para nós que defendemos superar o capitalismo, é preciso
descobrir como o vírus sofre mutações que o fazem sobreviver. Claro que o
problema se coloca de maneiras diferentes. O
nacional-desenvolvimentismo não era anticapitalista; algumas de suas
variantes buscavam ser anti-imperialistas. Já a social-democracia era
originalmente anticapitalista, assim como o comunismo soviético. Ambos
tiveram que construir modus vivendi com o capitalismo, sendo que no caso
do comunismo soviético havia o propósito de conviver para superar em
definitivo o capitalismo.
Mas o que ocorreu ao final das contas foi o contrário: o capitalismo
sobreviveu. A pergunta é: por quais motivos? E o que pode ser feito para
que novas tentativas de construção do socialismo não incorram no mesmo
desfecho? Um bom começo é evitar o discurso da irreversibilidade dos
processos revolucionários. E, principalmente, recuperar o modo de pensar
clássico do marxismo acerca do capitalismo como processo contraditório,
cabendo a nós desenvolver estas contradições, buscando no centro da
própria engrenagem a contramola que resiste e supera. Esta “mola” é a
luta política e social da classe trabalhadora: só ela permite um
desenvolvimento capaz de superar, seja o neoliberalismo, seja o
desenvolvimentismo conservador, seja o capitalismo.
IHU On-Line – Gostaria de acrescentar mais algum comentário sobre o tema?
Valter Pomar – Eu acrescentaria que estamos num
momento fantástico, tanto da história do Brasil quanto da história
regional e mundial. A crise do capitalismo, o declínio da hegemonia dos
Estados Unidos, o deslocamento geopolítico em direção à Ásia, criaram
uma instabilidade muito perigosa, mas ao mesmo tempo é esta
instabilidade que nos permite dizer que o jogo está sendo jogado, que as
alternativas estão sobre a mesa, que muito pode acontecer, inclusive
nada como diria o Barão, e que as soluções estão sendo construídas aqui e
agora, pelo que estamos fazendo dentro de cada país e por aquilo que
cada Estado está fazendo na arena internacional. Nosso desafio como
esquerda brasileira, especialmente o desafio dos petistas, é estar à
altura destas circunstâncias. E fazer o que precisa ser feito, não
apenas para que o povo viva melhor, não apenas para superar o
neoliberalismo, não apenas para superar o desenvolvimentismo
conservador, mas também para recolocar o socialismo como alternativa
prática para os problemas da maioria do povo. Se nós do
PT não
conseguirmos isto, teremos que esperar muitas décadas para que se abra
uma nova janela histórica. Agora, para conseguir isso será preciso
superar uma tradição da história brasileira: a de mudar conciliando e
preservando grande parte das relações sociais do passado. Sem
esquerdismo, sem voluntarismo, sem desconsiderar a correlação de forças,
mas também sem cair nesta desastrosa tese segundo a qual sempre é
melhor um mau acordo do que uma boa briga.