Com o peso de 75 anos de uma linda
história de muita combatividade; com a responsabilidade de ser a
entidade que representa os mais de um milhão e meio de estudantes
universitários brasileiros; com a consciência dos imensos desafios de
liderar e protagonizar a luta por uma universidade democrática e
popular, a União Nacioal dos Estudantes – UNE convoca o seu 53°
Congresso a ser realizado entre os dias 29 de Maio a 2 de Junho em
Goiânia.
Neste momento em que os movimentos
sociais se debruçam em um profundo e necessário balanço de uma década de
um Governo de Centro Esquerda liderado pelo Partido dos Trabalhadores, a
UNE não pode se furtar a também fazer o seu balanço no 53° Congresso.
Mas deve o fazer com olhos para o futuro e consciente do seu papel: ser a
ponta de esquerda que arraste o Governo para as demandas reais dos
estudantes, dos jovens que estão fora das universidades e da classe
trabalhadora.
Para isto terá pela frente três grandes desafios. O primeiro é a aprovação do Plano Nacional de Educação com
as emendas propostas pelo movimento social de educação. O projeto foi
aprovado na Câmara e se arrasta na tramitação no Senado. Tem como maior
polemica a meta n° 20, que determina que até 2023 o Estado brasileiro
deverá investir no mínimo 10% do PIB na educação pública.
Hoje temos pouco mais de 5% do PIB de
investimento, valor inconcebível diante dos muitos desafios da educação
brasileira. Temos professoras/es e demais trabalhadoras/es da educação
sem receber o piso salarial; mães sem poder trabalhar ou estudar por não
ter creche para seus filhos; escolas sem a mínima estrutura para aula;
jovens sem vagas para cursar o Ensino Médio; salas de aula lotadas;
orçamento insuficiente para assistência estudantil; ausência em vários campi de R.U e Casa do Estudante; e número reduzido de professoras/es e técnicos administrativos.
Temos a convicção de que a meta de 10%
do PIB de investimento até 2023 é plenamente atingível. Para isto,
defendemos a aprovação da destinação de 100% dos royalties e 50% do
fundo social do pré-sal para educação. Mas não só isto. Defendemos que o
Governo Federal tenha ousadia para auditar, de forma profunda, a dívida
pública e para acabar com a farra do setor financeiro, assim como para
diminuir o superávit primário, que é o dinheiro economizado que pode ser
gasto em educação e infraestrutura e vai para pagamento dos juros da
dívida.
O segundo desafio parte da concepção de
que o prolema da universidade brasileira não é só de financiamento. A
falta de recursos explica muita coisa, mas não uma universidade
machista, homofóbica, racista, eurocêntrica, fechada para a comunidade
ao seu redor e com uma pedagogia bancária. Urge a necessidade da construção de uma Reforma Universitária.
A universidade não é neutra, pelo contrário, tem sido importante
aliada dos setores dominantes. Precisamos transformá-la em um espaço de
reflexão sobre o Brasil e de intervenção na realidade.
O Brasil que queremos precisa de uma
universidade com democracia interna, onde a voz dos estudantes tenha o
mesmo peso que o a dos professores; uma universidade com pesquisa
fortalecida e a serviço do desenvolvimento nacional e regional; que seja
sem muros e pratique uma extensão universitária com trocas de
conhecimento e valorização dos saberes populares; uma universidade em
que sua grade curricular valorize o SUS, estude a necessidade de uma
reforma ágraria, debata a democratização das comunicações e outras
demandas socias que hoje são ignoradas.
A UNE, em seu 14° CONEB – Conselho
Nacional de Entidades de Base ocorrido no Recife em Janeiro, construiu o
projeto de reforma universitária dos estudantes brasileiros que dá
conta destas demandas. Precisamos agora fazer com que este projeto vá
para as bases e seja debatido pelo conjunto dos estudantes, para que
seja a pauta central da próxima jornada de lutas.
Para participar da mobilização na luta
por estes desafios, precisamos, antes, resolver o terceiro deles. Hoje,
um número cada vez maior de universitários se organizam em coletivos de
mulheres, de negros e negras, de cultura, de LGBT’s, de extensão, de
religiões, de defesa do meio ambiente, entre outros. Esses diversos
movimentos organizam e mobilizam milhares de estudantes pelo país, porém
nem sempre constróem a rede tradicional do movimento estudantil
(Centros e Diretórios Acadêmicos, Diretórios Centrais dos Estutantes,
UEE’s, Executivas e Federações de curso e a UNE). É um desafio colocado
sobre nós a reorganização do movimento estudantil, entendendo-o
como um prisma em que essas diversas identidades se convergem e e que
encontrem na UNE, mais uma vez, um dos principais espaços de luta
estudantil Brasil afora.
Esta próxima gestão da UNE terá como
grande desafio produzir uma nova cultura política para o movimento
estudantil que atraia para as entidades do movimento estudantes que não
mais a enxergam como o seu espaço de organização. Para este novo tempo
precisamos de um novo movimento estudantil que seja capaz de mudar a
universidade e tranformar o Brasil.
Jonatas Moreth é estudante de Serviço Social na UnB e Diretor de Políticas Educacionais da UNE
Adriele Monjabosco é estudante de Serviço Social na UFSM e Diretora de Movimentos Sociais da UNE
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