quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

93 anos de Luiz Maranhão

Alexandre de Albuquerque Maranhão
Historiador

Foi um dos poucos norteriograndenses a honrar e dignificar a terra potiguar com o seu valoroso espírito público. Nasceu em Natal no dia 25 de janeiro de 1921. Um militante político universal, que fazia política com visão abrangente. É assim que podemos definir Luiz Ignácio Maranhão Filho: um lutador social conhecido, estimado e respeitado do Leste europeu à antiga União Soviética. Na pátria brasileira não recebeu o mesmo tratamento e as devidas homenagens. Discriminado e perseguido por lutar pela construção e fortalecimento de nossa democracia e de querer transformar o Brasil numa nação livre, justa e soberana.

Culto e diferenciado entre os políticos de sua época, Luiz Maranhão defendia e acreditava na igualdade de gêneros. Através de sua incansável luta por um mundo mais solidário, fraterno e justo entre homens e mulheres, ele escreveu sua própria história com coragem e ousadia.

Esta figura histórica da política brasileira teve seus ideais de liberdade, democracia, humanismo e de solidariedade destruídos e esmagados pelos horrores da repressão da ditadura militar instaurada no Brasil em 1964. Foi preso e torturado várias vezes no decorrer de seus cinquenta e três anos de existência. As novas gerações precisam saber que Luiz Maranhão chegou ao limite de perder a sua própria vida, por acreditar que um outro Brasil era possível: um país onde não houvesse injustiça social, a democracia fosse plena e as oportunidades iguais para todos.

Ele renunciou a tudo: a uma bem sucedida atividade profissional de advogado, de jornalista e de professor. A sua escolha e a sua aposta foi a de lutar contra qualquer forma de opressão e na pregação de um Brasil e um mundo mais humano e solidário. Poderia ter escolhido viver tranquilamente com a esposa Odette Maranhão, sem os atropelos e a tensão dos encontros ocorridos na clandestinidade. Tiveram uma relação matrimonial intercalada de sobressaltos. A intensa e arriscada atividade política do marido, fazia com que a senhora Odette periodicamente viajasse para o Rio de Janeiro ou São Paulo para visitá-lo.

A história de vida de Luiz Maranhão foi marcada pela coerência aos princípios éticos da política sem negociatas e fisiologismo. Foi uma figura marcante na militância política de esquerda do Rio Grande do Norte e do Brasil. Era respeitado e admirado no meio político que convivia, pelos seus alunos do colégio Ateneu e pelas pessoas que passavam a conhecê-lo de imediato. Sua generosidade, seu caráter de homem íntegro e o profundo conhecimento que tinha dos problemas nacionais e da geopolítica internacional o fizeram um homem bem à frente de seu tempo.

Humanista por formação, jamais pregara qualquer tipo de violência, no entanto, fora brutalmente vítima dela. Tido como “subversivo à ordem instaurada”, foi submetido a torturas, prisões, humilhações e constrangimentos pelos agentes da ditadura militar. Esse brasileiro de caráter honrado e exemplar não recebeu até hoje o devido reconhecimento nem as justas homenagens de sua pátria, que ele tanto amava e defendia. Jamais cometera um crime contra quem quer que seja, no entanto, sua opção política-partidária de esquerda marxista, foi o único motivo para ser vigiado, perseguido, preso e torturado.

A saída de Luiz Maranhão de Natal se deu no final de outubro de 1964, após ser libertado da prisão de Fernando de Noronha e nunca teve retorno. No Rio de Janeiro ou em São Paulo, estava sempre ocupado com as atividades políticas do Partido Comunista Brasileiro (PCB), onde era da direção do Comitê Central. Em novembro de 1973, na cidade de São Paulo, ocorreu uma reunião em que se discutiu e avaliou a segurança dos dirigentes e militantes do partido. Sair do país ou permanecer nele foi o principal assunto. A repressão aumentara o cerco contra os opositores do regime. Luiz Maranhão preferiu ficar. Não quis abandonar o trabalho político que estava em andamento.

Hábil articulador político procurou os setores progressistas da Igreja Católica, na busca por caminhos e soluções para superar a crise brasileira, retomar a construção da fragilizada democracia e por em prática as transformações estruturais do país. Afirmava que comunistas e cristãos podiam caminhar juntos.

No início de abril de 1974, Odette Maranhão recebeu a notícia que Luiz Maranhão tinha sido preso em São Paulo numa praça, quando ia se encontrar com David Capistrano, dirigente do PCB, que estava chegando da então União Soviética. Começava a via-crucis daquela mulher marcada pelo sofrimento e angústia. Percorreu Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, visitando políticos, generais, prisões e manicômios sem recolher qualquer notícia de seu marido. Personagem do mundo e desaparecido político, Luiz Maranhão não tem túmulo visível em lugar nenhum.

O trecho a seguir, do livro Luiz, O Santo Ateu, da escritora Heloneida Studart, resume de forma perfeita a figura humana e política desse grande patriota: “não sei de ninguém que exceda Luiz Maranhão em dignidade pessoal, em coerência política, em talento e cultura, nas forças da esquerda brasileira. Guardo desse homem, massacrado por seus ideais, a impressão melhor de quantas me deixaram as lutas revolucionárias. Alegre, riso aberto e franco, Luiz Maranhão fazia amigos e admiradores em todo lugar. Um dia, quando tivermos tempo, choraremos por sua morte”.

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