quarta-feira, 31 de julho de 2013

Esquerda católica vai às ruas na Jornada Mundial da Juventude

Munidos com bandeiras vermelhas, jovens ligados à Teologia da Libertação protagonizam marcha mundial contra o extermínio da juventude e defendem igreja aberta e comprometida com os pobres


“Estamos nas ruas contra a redução da maioridade penal e também contra a violência e o extermínio de jovens”, afirmou o paraense Thiesco Crisóstomo, secretário nacional da Pastoral da Juventude (PJ), durante a Marcha Mundial “A Juventude quer Viver”, realizada na tarde de ontem (26), pouco antes da missa com o papa Francisco, na zona sul do Rio de Janeiro.

Depois de percorrer cerca de três quilômetros, do Arpoador à praia de Copacabana, a marcha encerrou as atividades da Tenda das Juventudes, espaço oficial da Jornada Mundial, que reuniu uma rede de entidades e pastorais comprometidas com as transformações sociais.

Severine Macedo, secretária nacional de Juventude do governo da presidenta Dilma Rousseff, participou do protesto. A jovem de 31 anos iniciou sua militância em uma área rural de Santa Catarina. “A pastoral tem uma inserção forte nas comunidades e faz uma discussão sobre a questão social. Além disso, discute a espiritualidade e a Igreja Católica, mas com um pé na luta. A galera também atua em partidos, sindicatos e movimentos sociais. Acho que isso diferencia muito a PJ de outras organizações católicas”, define.

Com o nome de jovens pregados à cruz, tocando instrumentos e cantando palavras de ordem, como “para a Igreja avançar, tem que ser mais popular”, mais de duas mil pessoas lembraram os 20 anos da chacina da Candelária, o massacre do Pinheirinho, de Eldorado dos Carajás, entre tantos outros episódios rotineiros de assassinato da população juvenil.

“Hoje nós estamos celebrando a Via-Sacra na Jornada Mundial da Juventude. Quando a gente olha para a morte de Jesus, a forma como foi feita, é lógico que também temos que olhar para nossa realidade. Então a gente quis trazer junto com a Via-Sacra de Jesus, a Via-Sacra de tantos jovens que são mortos todos os dias no país. A gente quis trazer não só o Jesus da Igreja, mas o Jesus que está no rosto de cada um e cada uma de nós”, refletiu Thiesco.

Futuro em risco

Para Severine, “esse é um momento muito importante da Jornada porque chama atenção do mundo inteiro para este problema”. “A violência é bastante alta no no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, é como se caíssem oito aviões lotados de jovens todos os meses. São em torno de 28 mil jovens assassinados por ano, vítimas de arma de fogo. Mais de 90% são homens e mais de 70% são negros moradores das periferias dos grandes centros urbanos.”

A secretária também lembrou que, em conjunto com a PJ e o movimento negro, foi elaborado o Plano Juventude Viva que tem por objetivo combater o extermínio de jovens no país. A recente aprovação do Estatuto da Juventude também foi comemorada como uma das medidas para enfrentar o problema.

Ao longo de sua passagem, a marcha despertou diferentes reações na multidão que aguardava a passagem do papa desde cedo pela orla de Copacabana. Houve quem confundisse a manifestação com os protestos pelo Fora Cabral ou achasse que se tratava de uma atividade de partidos políticos. Alguns poucos faziam o sinal da cruz, como se estivessem se protegendo de alguma coisa. A grande maioria, porém, aplaudiu e expressou apoio às bandeiras dos manifestantes.

Quem também passou para dar o seu apoio foi o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Ele se disse encantado com a Jornada Mundial da Juventude. “Você vê centenas de milhares de jovens de várias nacionalidades andando pelas ruas, cantando, sorrindo, trocando ideias, vendo uma manifestação popular, como esta da Pastoral da Juventude. Eu acho que o Brasil precisava deste gesto”, disse.

A Jornada Mundial da Juventude iniciou nesta segunda-feira (22) e segue até domingo (28) na capital fluminense. A organização recebeu 375 mil inscritos, vindos de 175 países, sendo 220 mil inscrições brasileiras. O evento, realizado a cada dois ou três anos, promove um encontro internacional de jovens católicos com o papa. A última edição ocorreu em 2011, em Madri, na Espanha, e reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, de mais de 190 países. O JMJ 2013 também marca a primeira visita do papa à América Latina desde sua nomeação, em 13 de março.

Por: Carla Santos

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Hegemonia partidária na direção da UNE está na corda bamba

Apesar de mais de duas décadas de domínio absoluto, PCdoB vem, ao longo do tempo, perdendo representatividade na União Nacional dos Estudantes, que tem sido alvo de constantes críticas

"A entidade não pertence, nem é comandada por nenhum partido e, sim, pelo conjunto dos estudantes universitários brasileiros", afirma a presidente da UNE, Virgínia Barros

O PCdoB pode não ser o maior partido de esquerda no Brasil, mas dirige desde 1991 a principal entidade estudantil do Brasil, a União Nacional dos Estudantes (UNE). A pernambucana Virginia Barros, 27 anos, eleita em junho para a Presidência da UNE para o período de 2013 a 215, é a 10ª presidente consecutiva da entidade filiada ao PCdoB. Desde 1979, quando a UNE saiu da ilegalidade em que foi colocada pelo regime militar, o partido só não esteve no mais alto posto da organização estudantil entre 1987 e 1991, período em que foi comandada pelo PT. De lá para cá são mais de duas décadas de hegemonia absoluta.
Tanto tempo no poder não é sinônimo de unanimidade dentro do movimento estudantil. Pelo contrário. A UNE tem sido alvo de críticas constantes de juventudes partidárias das mais diversas correntes, da esquerda radical aos liberais. Até mesmo dentro do PT, segunda maior força no movimento estudantil, não faltam reclamações contra a gestão comunista.

A oposição ao campo que hoje dirige a UNE vem ganhando espaço nas últimas disputas e por pouco não conquistou na eleição de junho o segundo cargo mais importante na hierarquia da entidade, a tesouraria. O apoio ao PCdoB na entidade estudantil também caiu em relação à disputa anterior. Na eleição deste ano Virgínia Barros conquistou 68,3% dos votos dos delegados, proporção menor em relação a 2011, quando o também comunista Daniel Iliescu teve quase 76% de aprovação.
Um dos principais problemas apontados é a falta de democracia na gestão da entidade e o processo eleitoral. As eleições são feitas de maneira indireta. Os diretórios estudantis das universidades organizam as eleições para a escolha dos delegados, na proporção de um para cada mil votos, que terão direito a escolher a direção durante congresso.

“O modelo é bom, mas não é executado de maneira democrática. Dominada pelos integrantes do campo majoritário, a junta eleitoral aceita ou não os delegados que quiser e os critérios não são claros”, reclama Adriele Marlene Manjabosco, 20 anos, aluna do curso de serviço social da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e que compõe a atual diretoria da UNE. Ela fez parte do Campo Popular, uma das duas chapas de oposição que participaram da última disputa da entidade. “A UNE esteve presente de forma decisiva em lutas históricas brasileiras, mas hoje enfrenta uma crise de representatividade por causa de seu atrelamento ao governo federal e por causa do centralismo de sua gestão”, critica Adriele, filiada ao PT e integrante de um movimento chamado “Reconquistar a UNE”.

As eleições também são motivo de reclamação por parte do estudante Yuri Pires Rodrigues, 26 anos, aluno do curso de letras da Universidade de São Paulo. Filiado ao Partido Comunista Revolucionário (PCR), que tem forte presença no meio estudantil, ele afirma que na última disputa a data das eleições foi antecipada pela direção da UNE para dificultar a formação de chapas. “As eleições tradicionalmente são na segunda quinzena de julho, mas com a desculpa da Copa das Confederações elas foram adiantadas para o fim de maio, atrapalhando a eleição de delegados pelas chapas de oposição”, afirma Yuri, primeiro vice-presidente na atual gestão.

Segundo ele, a mudança do calendário foi votada em uma reunião da entidade, mas antes do resultado a direção já tinha confeccionado panfletos com a nova data. Para Yuri, a única forma de se contrapor ao poder do PCdoB seria a união em uma só chapa de todos os campos de oposição. “A gente até conseguiu superar algumas divergências e se unir na última disputa, por isso mesmo aumentamos nosso espaço na direção, mas ainda não foi suficiente”, destaca.

A disputa entre o campo de esquerda, segundo ele, tem enfraquecido a entidade e aberto brecha para partidos conservadores ocuparem espaços importantes dentro do movimento estudantil, principalmente nos diretórios centrais. “O que queremos é que a UNE faça mais enfrentamento para garantir conquistas para os estudantes. Não pode o governo federal dizer sim e a UNE, sim, senhor”, defende.

Questionada sobre a hegemonia do PCdoB no comando da UNE, Virgínia Barros afirmou, em entrevista por e-mail, que quem elege “a diretoria da UNE não é a força política A ou B, mas os estudantes” e que a entidade “não pertence, nem é comandada por nenhum partido e, sim, pelo conjunto dos estudantes universitários brasileiros”. Segundo ela, a atual diretoria reúne estudantes de diversos partidos e também sem filiação partidária. Em relação ao processo eleitoral, a presidente disse considerá-lo “o mais democrático entre o conjunto das entidades do movimento social brasileiro”. O regimento, de acordo com ela, é formulado e aprovado em um fórum da UNE composto por centenas de diretórios centrais dos estudantes, executivas de curso e uniões estaduais dos estudantes.

Fonte em.com.br
Autora Alessandra Mello

quinta-feira, 18 de julho de 2013

REFORMA POLÍTICA SIM; TRANSGÊNICO, NÃO!

A presidente Dilma Rousseff discursava no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Marcante em sua intervenção era a defesa do plebiscito pela reforma política. Poucas horas antes, um deputado de seu partido, Cândido Vaccarezza (SP), candudatava-se a coveiro da consulta popular e decretava que nenhuma mudança seria válida antes de 2016 ou 2018.

O parlamentar paulista, coordenador do grupo de trabalho sobre sistema eleitoral, não afrontou apenas a convocação da chefe de Estado. Violou abertamente resolução da própria agremiação a que pertence desde sua fundação.

Indicado para a função atual pelo presidente da Câmara dos Deputados, o peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN), Vaccarezza atua como um franco-atirador e se associa aos setores mais conservadores do parlamento. Nunca escondeu que, em termos gerais, é um apoiador das regras atuais do jogo político-eleitoral.

Está no seu direito ter as posições que bem entender e escolher as companhias que preferir. O mal maior que sua atitude produz é contribuir para a desmoralização dos partidos políticos, prato tão ao gosto do reacionarismo pátrio.

Ao formar na troika contra o plebiscito e a reforma política, ladeado por Alves e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado constrange o PT.

O Partido dos Trabalhadores sempre foi muito cioso de sua disciplina interna, ciente que não há outro caminho para a disputa programática, o combate pela direção do Estado e a construção de hegemonia político-ideológica na sociedade.

Pode um parlamentar do mesmo partido fazer o serviço dos que buscam travar a proposta da presidente em um momento de crise aguda? É cabível um deputado rasgar a orientação de sua agremiação e se compor com os que querem derrotá-la?

Nós abaixo-assinados nos dirigimos ao diretório nacional do PT, para que feche questão em torno da consulta popular, da Constituinte e da reforma política. Esse é o instrumento necessário para que sejam impostas as devidas sanções a quem resolve fazer carreira solo.

O PT deveria ser capaz de convencer seus parlamentares a andarem na linha. Ou oferecer a porta da rua como serventia da casa.

Página13 julho 2013 nº 122

Documentário “1964 – Um golpe contra o Brasil” (2013), de Alipio Freire




“1964 – Um golpe contra o Brasil” (2013), de Alipio Freire. Aborda o período entre 1960 (eleição do presidente Jânio Quadros e do vice João Goulart), e a posse do marechal Humberto de Alencar Castello Branco em 15 de abril de 1965. O filme trata dos programas em disputa, dos interesses de classe em jogo, e da conspiração.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Valter Pomar fala sobre a Reforma Política

Propostas do PT para a Reforma Política




Reforma Política - Financiamento Público




Reforma Política - Voto em lista




Reforma Política - Coligações Partidárias




Reforma Política - Constituinte Exclusiva




Reforma Política - Democratização do sistema eleitoral

Próximos seminários regionais do PT/RN

Calendário dos Seminários:

Dia 27/07/2013 - Mato Grande/Litoral Norte, o seminário será realizado na cidade de Pureza, inicio previsto as 9h00 da manhã.

Dia 04/08/2013 - Médio Oeste, ainda não foi definido a cidade, mais será Caraúbas ou Janduís, inicio previsto as 9h00 da manhã.

Dia 10/08/2013 – Litoral Agreste, o seminário será na cidade de Santo Antônio, inicio previsto as 14h00 da tarde.

Dia 17/08/2013 – Polo Potengi, o seminário será na cidade de São Paulo do Potengi, inicio previsto as 14h00 da tarde.

Dias 30 e 31 de Agosto será o Seminário Estadual em Natal.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A esperança é vermelha (versão completa da tese)


1.As grandes mobilizações ocorridas no Brasil, desde 13 de junho de 2013, constituem motivo de comemoração e otimismo. O país, nosso governo e nosso Partido dos Trabalhadores necessitavam deste chacoalhão, que abre a possibilidade de avançarmos, e avançarmos mais rápido, no processo de reformas sociais e políticas. Mas para isto é preciso fazer uma detida reflexão sobre os acontecimentos.

2.Os acontecimentos das últimas semanas não constituem um raio em céu azul, ao menos para os que vinham acompanhando a mudança nas condições do país, desde o início do governo Dilma. Vários setores do Partido já apontavamos para os limites de nossa estratégia, as contradições crescentes de nossa política, as mudanças sociológicas e geracionais do país, a alteração na postura do grande Capital, a ofensiva ideológica e política da direita partidária e midiática, o distanciamento das bases sociais e eleitorais e, principalmente, para o fato de que a política econômica vem provocando um atendimento limitado às necessidades e demandas das massas populares. O próprio Diretório Nacional já apontara, na convocatória do V Congresso do Partido, a necessidade de reformas estruturais mais profundas no país, inclusive no âmbito da comunicação, educação e cultura. Mas mesmo quando esta crítica comparecia nos discursos, não era a interpretação nem a postura predominantes na prática. Nesse sentido, é necessário e pedagógico recordar alguns fatos, ocorridos antes de 13 de junho de 2013.

3.A imprensa atribuiu a um afamado marqueteiro –categoria cuja nefasta influência política deve ser repensada— a opinião de que as pesquisas apontavam para uma reeleição de Dilma já no primeiro turno. Avaliação equivocada que havia sido cometida em 2010, quase resultando em danos irreparáveis.

4.Nas atividades comemorativas dos dez anos de governos Lula e Dilma, o reconhecimento dos erros, insuficiências e contradições era muitas vezes soterrado por um discurso de auto-propaganda, que também pode ser encontrado em publicações recentes acerca do tema. Não temos dúvida de que hoje estamos melhor do que estávamos na era FHC, e de que estamos melhor do que estaríamos sob Serra e Alckmin. Mas estaríamos ainda melhor se tivéssemos aplicado o conjunto do programa do PT, sendo necessário reconhecer as limitações do que foi feito e o quanto ainda resta por fazer.

5.Era frequente, entre amplos setores do Partido, uma postura arrogante que minimizava a força política e ideológica de nossos inimigos, assim como as decorrências negativas do tipo de governabilidade adotada, entre as quais a influência do do PMDB e a presença crescente de fundamentalistas de direita em partidos da base do governo, sendo Marcos Feliciano seu símbolo mais vistoso, compondo um Congresso Nacional que tem derrotado a imensa maioria das propostas progressistas. Virou hábito dizer que a oposição de direita “não tinha programa”, “não tinha proposta”, “estava dividida”, “não conseguia influenciar a opinião pública, só a opinião publicada”, dependia “apenas” do PIG etc. Cegueira política e preguiça intelectual, incapaz de perceber os desdobramentos do que vem ocorrendo no Brasil há anos: uma brutal ofensiva ideológica do conservadorismo, que assume ademais novas formas e conteúdos, por exemplo através da agitação e propaganda nas novas e velhas mídias. Ofensiva contra a qual o governo e o Partido não ofereceram devida resistência. Pelo contrário: na Comunicação, na Casa Civil e em outros ministérios, brotam frequentes sinais de apoio prático e retórico às teses de direita.

6.Finalmente e mais importante, tornou-se frequente confundir a fotografia com o filme. A fotografia dos índices de pesquisa era favorável. Mas o filme mostrava uma realidade em movimento: uma mudança na postura do grande Capital em relação ao nosso governo; a radicalização política e ideológica de setores médios contra as posições de esquerda; a insatisfação crescente de setores da classe trabalhadora tradicional; e uma ambiguidade no apoio da "nova classe trabalhadora". Mostrava, também, grandes novidades geracionais: a mais alta proporção de jovens e jovens trabalhadores no conjunto da população, com acesso a empregos precários e mal remunerados, dividindo seu tempo entre trabalho, estudo e transporte, o que ajuda a entender porque a qualidade do transporte e o valor das tarifas são temas tão sensíveis.

7.Estes e outros elementos eram completamente perceptíveis antes do 13 de junho de 2013. Tomados isoladamente ou de conjunto, as reuniões das direções partidárias, de nossas bancadas, das nossas lideranças sociais e intelectuais apontavam para tais problemas. Mas o Partido como um todo, e o governo em especial, foram incapazes de sintetizar isto numa orientação alternativa. O que reforça algo que todos sabemos: é preciso mudar a dinâmica partidária, bem como a relação entre partido e governo. E sem cair na tentação de personificar os problemas, pois não podemos desconsiderar os equívocos coletivos, alguns dos quais se acumulam desde 1995, outros desde 2003.

8.A partir de 13 de junho de 2013, a quantidade converteu-se em qualidade, num processo de mobilização social que devemos analisar com o máximo de atenção. Cabe ao Partido, e também a nós, reunir o conjunto de informações e interpretações acerca do processo e elaborar uma síntese capaz de nos orientar melhor na luta política. De imediato, algumas variáveis já podem ser apontadas.

9.Em primeiro lugar, é preciso atentar para a heterogeneidade do processo. Não apenas a existência de múltiplos movimentos, setores sociais e políticos envolvidos, disputando e sendo disputados. Mas também a existência de etapas distintas no processo, cada qual com um sentido e hegemonia distintas. Está claro, por exemplo, que o movimento começou em torno da luta contra as tarifas do transporte urbano; cresceu como movimento de solidariedade contra a repressão policial; depois entrou numa terceira fase, onde a direita passou a disputar com força a condução do movimento; houve então (no momento em que concluímos este texto) uma reação do governo e das esquerdas, em torno principalmente da proposta de Plebiscito. É fundamental, portanto, fazer análise concreta da situação concreta.

10.Em segundo lugar, é importante destacar a predominância da juventude. Cabe analisar melhor o perfil deste setor social que foi às ruas. E atentar para o fato de que a juventude, especialmente nas periferias, é alvo de uma pauta predominantemente negativa: violência do Estado, toque de recolher, redução da maioridade penal, com 20 mil jovens negros morrendo vítimas de homicídio todo ano. Numa primeira aproximação, podemos dizer que, ao menos numa primeira etapa, foi às ruas uma juventude trabalhadora ou filha de trabalhadores, com idade média até 25 anos e formação predominante universitária, exatamente o setor social e geracional que nossas próprias pesquisas e análises indicavam estar ganhando distância frente ao PT. Aliás, chama a atenção que alguns que antes comemoravam a “entrada de milhões na classe média”, agora criticam as manifestações por estarem “compostas predominantemente por gente de classe média”: tanto a ingênua comemoração anterior quanto a indistinta ojeriza posterior incidem em erros, sociológicos e políticos. A verdade é que a intensa mobilização juvenil, de uma geração que nasceu depois da campanha das Diretas Já, quebrou dois mitos: o de que a juventude seria naturalmente de esquerda e progressista; e de que seria uma juventude alienada e desinteressada da política.

Uma Estratégia Socialista Para o Brasil

"Aos que desistiram antes da hora. Aos que enrolaram suas bandeiras.
Aos que trocaram de camisa. Aos que se deixaram tomar pelo desespero.
E aos que continuam acreditando no socialismo e na revolução, quase com a mesma intensidade com que acreditaram em bruxas e duendes...
A todos esses, nós sempre dissemos: calma, a burguesia não nos faltará. Mais cedo ou mais tarde, ela devorará seu disfarce de pele de cordeiro. Cedo ou mais tarde, alguém gritará: o rei está nú. Mais cedo ou mais tarde nós voltaremos.
E assim foi. Pouco importa quem tenha sido o primeiro: Os zapatistas? Os sem-terra? Os grevistas da França? Da Bélgica? Da Coréia do Sul? Os guerrilheiros que desmascararam Fujimori?
Não importa quem tenha sido o primeiro, até porque nunca houve um último. A luta nunca cessou. Apenas muitos andaram um pouco surdos. Agora mais gente escuta. E mais gente faz barulho.
Preparamos pois, com grande estilo, pompa e circunstância, a entrada do Brasil no século XXI. Quem quiser vir conosco, prepare o corpo, a alma e principalmente o humor. Porque os bons tempos voltaram. E eles serão de chumbo."

Resumo do texto "Uma Estratégia Socialista Para o Brasil", Coletânea "Socialismo ou Barbárie" da Articulação de Esquerda, tendência do PT.

VALTER POMAR, para presidente nacional do PT.

A Esperança é Vermelha!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Dez anos de governo do PT: caráter de classe e relação com a política neoliberal

Por Valter Pomar (Membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores e secretário-executivo do Foro de São Paulo)

O PT ganhou as eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010. No final de 2012, decidiu que organizaria no ano de 2013 um processo de avaliação dos últimos 10 anos. Na direção do Partido dos Trabalhadores houve uma polêmica acerca do nome da atividade.

O título proposto inicialmente - "Dez anos de governos petistas" - não agradou a gregos e troianos; ou seja, não agradou aos que desejavam valorizar a presença de aliados, nem aos que desejavam questionar a influência de políticas contraditórias com o PT.

As alternativas "governos de esquerda" e "governos democrático-populares" padeciam do mesmo problema. Ao final, a direção optou por um título descritivo: "Dez anos de governos encabeçados pelo PT".

Depois veio um marqueteiro e preferiu falar de "dez anos que mudaram o Brasil". E essa foi a linha que acabou predominando  no ciclo de debates promovido pelo PT: o elogio às transformações que teriam ocorrido  no Brasil desde o início de 2003.

A ideia de que teriam ocorrido transformações substanciais é criticada pela oposição, tanto de esquerda quanto de direita. Ambos os setores consideram que predominou a continuidade, elogiada por alguns e criticada por outros.

É fato que a economia e a sociedade brasileira continuam sob a hegemonia do neoliberalismo, ou seja, basicamente sob a hegemonia do capital financeiro. Este também possui enorme influência político e ideológica, embora seus candidatos preferidos tenham sido derrotados nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010. Cabe lembrar, ainda, que as privatizações não foram revertidas.

Que os governos Lula e Dilma fizeram concessões ao neoliberalismo, ninguém duvida. Daí não decorre, contudo, que a ação do governo Lula e Dilma possa ser caracterizada como neoliberal. Se isso fosse verdade, provavelmente hoje teríamos grandes manifestações por emprego e salário percorrendo as ruas do Brasil.

Isto posto, o que dizer sobre os "Dez anos de governo do PT: caráter de classe e relação com a política neoliberal"?

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Em respeito ao direito internacional e aos direitos humanos


Em respeito ao direito internacional e aos direitos humanos

Todos devem respeitar o direito internacional, sob pena do mundo escorregar de maneira irreversível em direção a uma situação catastrófica.

Os governos europeus que fecharam o espaço aéreo ao avião que transportava o presidente Evo Morales devem reconhecer e desculpar-se publicamente por terem cometido um atentado às leis internacionais, que poderia ter consequências trágicas.

Tais governos devem, ainda, explicar as motivações de tal atitude. Caso tenha alguma relação com a suspeita de que o avião da República da Bolívia estaria transportando o ex-agente da CIA Edward Snowden, os governos europeus implicados precisam explicar por quais motivos agridem preceitos diplomáticos básicos em benefício do governo dos EUA, num caso que envolve espionagem eletrônica em massa praticada pelos Estados Unidos contra a população mundial, inclusive contra governos europeus.

Manifestamos nossa solidariedade com o governo boliviano e com o presidente Evo Morales.

E instamos os governos integrantes da Unasul a defenderem com firmeza os direitos humanos, motivo pelo qual devem considerar o oferecimento coletivo de asilo a Edward Snowden, uma vez que está demonstrado que ele é vítima de perseguição e não tem garantido o direito a julgamento justo.

Brasília, 3 de julho de 2013

Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores
Iriny Lopes, secretária de relações internacionais do PT
Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Fabulações - Precisamos de uma força maior!

Um novo tempo, apesar dos perigos

Resolução da Direção Nacional da Articulação de Esquerda

Baner artigos estrela AE1.As grandes mobilizações ocorridas no Brasil, desde 13 de junho de 2013, constituem motivo de comemoração e otimismo. O país, nosso governo e nosso Partido necessitavam deste chacoalhão, que abre a possibilidade de avançarmos, e avançarmos mais rápido, no processo de reformas sociais e políticas. Mas para isto é preciso fazer uma detida reflexão sobre os acontecimentos, para a qual apresentamos a contribuição a seguir.

2.Os acontecimentos das últimas semanas não constituem um raio em céu azul, ao menos para os que vinham acompanhando a mudança nas condições do país, desde o início do governo Dilma.  Vários setores do Partido, inclusive a Articulação de Esquerda, já apontavam (http://pagina13.org.br/2013/04/manifesto-a-esperanca-e-vermelha/) para os limites de nossa estratégia, as contradições crescentes de nossa política, as mudanças sociológicas e geracionais do país, a alteração na postura do grande capital, a ofensiva ideológica e política da direita partidária e midiática, o distanciamento das bases sociais e eleitorais e, principalmente, para o fato de que a política econômica vem provocando um atendimento limitado às necessidades e demandas das massas populares. Não apenas a AE e setores da esquerda petista, mas o próprio Diretório Nacional do PT já apontara, na convocatória do V Congresso do Partido (http://www.jptrn.com.br/2013/05/convocatoria-para-o-v-congresso.html), a necessidade de reformas estruturais mais profundas no país, inclusive no âmbito da comunicação, educação e cultura. Mas mesmo quando esta crítica comparecia nos discursos, não era a interpretação nem a postura predominantes na prática. Nesse sentido, é necessário e pedagógico recordar alguns fatos, ocorridos antes de 13 de junho de 2013.

3.A imprensa atribuiu a um afamado marqueteiro –categoria cuja nefasta influência política deve ser repensada— a opinião de que as pesquisas apontavam para uma reeleição de Dilma já no primeiro turno. Avaliação equivocada que havia sido cometida em 2010, quase resultando em danos irreparáveis.

4.Nas atividades comemorativas dos dez anos de governos Lula e Dilma, o reconhecimento dos erros, insuficiências e contradições era muitas vezes soterrado por um discurso de auto-propaganda, que também pode ser encontrado em publicações recentes acerca do tema. Não temos dúvida de que hoje estamos melhor do que estávamos na era FHC, e de que estamos melhor do que estaríamos sob Serra e Alckmin. Mas estaríamos ainda melhor se tivéssemos aplicado o conjunto do programa do PT, sendo necessário reconhecer as limitações do que foi feito e o quanto ainda resta por fazer.

5.Era frequente, entre amplos setores do Partido, uma postura arrogante que minimizava a força política e ideológica de nossos inimigos, assim como as decorrências negativas do tipo de governabilidade adotada, entre as quais a influência do do PMDB e a presença crescente de fundamentalistas de direita em partidos da base do governo, sendo Marcos Feliciano seu símbolo mais vistoso, compondo um Congresso Nacional que tem derrotado a imensa maioria das propostas progressistas. Virou hábito dizer que a oposição de direita “não tinha programa”, “não tinha proposta”, “estava dividida”, “não conseguia influenciar a opinião pública, só a opinião publicada”, dependia “apenas” do PIG etc. Cegueira política e preguiça intelectual, incapaz de perceber os desdobramentos do que vem ocorrendo no Brasil há anos: uma brutal ofensiva ideológica do conservadorismo, que assume ademais novas formas e conteúdos, por exemplo através da agitação e propaganda nas novas e velhas mídias. Ofensiva contra a qual o governo e o Partido não ofereceram devida resistência. Pelo contrário: na Comunicação, na Casa Civil e em outros ministérios, brotam frequentes sinais de apoio prático e retórico às teses de direita.

6.Finalmente e mais importante, tornou-se frequente confundir a fotografia com o filme. A fotografia dos índices de pesquisa era favorável. Mas o filme mostrava uma realidade em movimento: uma mudança na postura do grande capital em relação ao nosso governo; a radicalização política e ideológica de setores médios contra as posições de esquerda; a insatisfação crescente de setores da classe trabalhadora tradicional; e uma ambiguidade no apoio da “nova classe trabalhadora”. Mostrava, também, grandes novidades geracionais: a mais alta proporção de jovens e jovens trabalhadores no conjunto da população, com acesso a empregos precários e mal remunerados, dividindo seu tempo entre trabalho, estudo e transporte, o que ajuda a entender porque a qualidade do transporte e o valor das tarifas são temas tão sensíveis.

7.Estes e outros elementos eram completamente perceptíveis antes do 13 de junho de 2013. Tomados isoladamente ou de conjunto, as reuniões das direções partidárias, de nossas bancadas, das nossas lideranças sociais e intelectuais apontavam para tais problemas. Mas o Partido como um todo, e o governo em especial, foram incapazes de sintetizar isto numa orientação alternativa. O que reforça algo que todos sabemos: é preciso mudar a dinâmica partidária, bem como a relação entre partido e governo. E sem cair na tentação de personificar os problemas, pois não podemos desconsiderar os equívocos coletivos, alguns dos quais se acumulam desde 1995, outros desde 2003.

8.A partir de 13 de junho de 2013, a quantidade converteu-se em qualidade, num processo de mobilização social que devemos analisar com o máximo de atenção. Cabe ao Partido, e também a nós, reunir o conjunto de informações e interpretações acerca do processo e elaborar uma síntese capaz de nos orientar melhor na luta política. De imediato, algumas variáveis já podem ser apontadas.

9.Em primeiro lugar, é preciso atentar para a heterogeneidade do processo. Não apenas a existência de múltiplos movimentos, setores sociais e políticos envolvidos, disputando e sendo disputados. Mas também a existência de etapas distintas no processo, cada qual com um sentido e hegemonia distintas. Está claro, por exemplo, que o movimento começou em torno da luta contra as tarifas do transporte urbano; cresceu como movimento de solidariedade contra a repressão policial; depois entrou numa terceira fase, onde a direita passou a disputar com força a condução do movimento; houve então uma reação do governo e das esquerdas, em torno principalmente da proposta de Plebiscito; nos próximos dias, estão convocadas várias mobilizações, desde o locaute convocado por setores da direita para o dia 1/7, até a mobilização das centrais sindicais nos dias 4 e 11/7. É fundamental, portanto, fazer análise concreta da situação concreta.

10.Em segundo lugar, é importante destacar a predominância da juventude. Cabe analisar melhor o perfil deste setor social que foi às ruas. E atentar para o fato de que a juventude, especialmente nas periferias, é alvo de uma pauta predominantemente negativa: violência do Estado, toque de recolher, redução da maioridade penal, com 30 mil jovens negros morrendo todo ano. Numa primeira aproximação, podemos dizer que, ao menos numa primeira etapa, foi às ruas uma juventude trabalhadora ou filha de trabalhadores, com idade média até 25 anos e formação predominante universitária, exatamente o setor social e geracional que nossas próprias pesquisas e análises indicavam estar ganhando distância frente ao PT. Aliás, chama a atenção que alguns que antes comemoravam a “entrada de milhões na classe média”, agora criticam as manifestações por estarem “compostas predominantemente por gente de classe média”: tanto a comemoração anterior quanto a ojeriza posterior incidem em erros, sociológicos e políticos (http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_marilena_e_a_turma_do_farol_por_valter_pomar). A verdade é que a intensa mobilização juvenil, de uma geração que nasceu depois da campanha das Diretas Já, quebrou dois mitos: o de que a juventude seria naturalmente de esquerda e progressista; e de que seria uma juventude alienada e desinteressada da política.